Discussões do Conerer

Quarta edição do Conerer trouxe discussões relevantes sobre relações étnico-raciais em sua programação

Palestras, mesas-redondas e rodas de conversa com temas variados provocaram reflexões nos participantes
Publicado em 13/11/2024 14:35 Atualizado em 14/11/2024 09:14
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Professora Lara Luísa, do IFSC, trouxe o debate sobre o papel da mulher na preservação da memória dos quilombos
Professora Lara Luísa, do IFSC, trouxe o debate sobre o papel da mulher na preservação da memória dos quilombos
Crédito: Guilherme Brasil/IFTM Udicentro

As discussões do IV Congresso Nacional de Educação para as Relações Étnico-raciais (CONERER), realizado entre os dias 12 e 13 de novembro, no Campus Paracatu, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), passaram por temáticas muito importantes para o debate das relações étnico-raciais. Com servidores e pesquisadores do IFTM e com a contribuição de convidados da comunidade externa, o Conerer levou ao público uma programação que contou com nove atividades que promoveram o debate, como palestras, mesas-redondas, minicurso e rodas de conversa.

A conferência de abertura foi proferida pela pedagoga e pesquisadora Lara Luísa, do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Natural de Paracatu, Lara pesquisa educação escolar quilombola e é vice-presidente da Federação Estadual dos Quilombolas de Minas Gerais. Ela abriu os trabalhos desta edição do Conerer com um bate-papo mediado pela presidente da Comissão Organizadora do evento, Magda Duarte. A temática era “Mulheres Quilombolas e Poder Ancestral”, a partir da qual falou sobre o papel da mulher preta para a preservação da memória dos quilombos.

“Eu busquei trazer para o debate, as nossas ancestrais, esse poder feminino tanto de mulheres negras, quanto não negras, mas que vem dessa ancestralidade na África, das grandes rainhas como a Rainha de Sabá, Cleópatra, e as lideranças quilombolas femininas esquecidas na história do Brasil propositalmente, como Dandara, Mariana Crioula, Zefaferina, Jaci Anumba Gabba. Eu queria trazer a força das mulheres, dessa ancestralidade, que está no nosso DNA”, explica Lara.

“Esse tipo de discussão é importante para fazer justiça social, porque a história do nosso povo está muito ainda nos nossos griôs, dos nossos mais velhos, as nossas bibliotecas são vivas. É muito importante esse debate para um evento como esse para que a partir daqui nossos alunos possas registrar essas histórias orais e transformarem elas em livros, em bibliografias, para que a gente possa estudar e conhecer mais sobre nós mesmos. Eu acredito muito no que a gente faz nos Institutos Federais, pois nós geramos mudança, nós estamos mais perto das comunidades quilombolas, indígenas, e podemos ser agentes de fortalecimento dessas memórias”, finalizou a pesquisadora.

Outro exemplo de discussão importante foi a palestra “História, cultura e resistência indígena no Brasil”, proferida pelo professor de História Alexandre de Oliveira Gama, do Campus Paracatu. “Eu fiz um panorama sobre a história e a resistência dos povos originários, de antes da colonização, até esses tempos que nós estamos vivendo agora do marco temporal. Meu objetivo, inicialmente, foi falar um pouco sobre a cultura indígena de modo geral, baseado nos estudos de alguns antropólogos. Trabalhei desde a forma como eles lidam com a terra, até como se dão as relações de parentesco entre eles, de produção dentro da aldeia, as organizações políticas”, explicou o professor, que também buscou apresentar como os povos indígenas estão alijados de representatividade na sociedade atual.

“Eu comentei um pouco sobre as políticas indigenistas no Brasil e o modo como elas trataram os indígenas. De um lado querendo isolá-los, mas de outro lado querendo integrá-los, chamada de política desenvolvimentista que foi a política dos militares. A gente precisa integrar os indígenas porque não há futuro para eles fora da sociedade não indígena”, avaliou Alexandre.

Discussões na Programação

Os dois pesquisadores exemplificam o que foi abordado no Conerer, mas a programação trouxe uma riqueza de temas que somente os participantes são capazes de contemplar. Houve uma mesa-redonda com o tema “Vivências e desafios no ensino e na consolidação da Educação para as Relações Étnico-Raciais”; uma conferência que abordou “A cor da desigualdade digital no Brasil”, e a conferência de encerramento trouxe a temática “Racismo estrutural e trabalho escravo contemporâneo - uma análise sobre as relações trabalhistas em Paracatu”.

A programação do Conerer ainda ofereceu experiências acadêmicas a participantes que não puderam estar presencialmente em Paracatu, como a realização dos Grupos de Trabalho de Comunicações Orais, que contaram com sete temáticas diferentes e aconteceram no formato online. Entre os temas discutidos estiveram “Arte, memória, ancestralidade e culturas populares” e “Feminismo negro e interseccionalidade”.

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