Pensamento anticolonial é pauta de minicurso que instiga reflexões críticas no IFTM Campus Uberaba
Crédito: Neabi
Nos dias 12 e 13 de maio, o IFTM Campus Uberaba foi palco de debates potentes sobre o legado do colonialismo e suas permanências no presente. Realizado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), o minicurso “Teoria Anticolonial" reuniu professores, pesquisadores e representantes da sociedade civil em uma programação voltada à construção de uma consciência crítica e antirracista.
A atividade teve início com a palestra “Educar o homem para vencer a guerra, criar uma sociedade nova e desenvolver a pátria”, ministrada pelo professor Mauro Cristiano de Paula Silva (IFTM Campus Uberaba). Na ocasião, ele destacou a importância da educação como instrumento de superação das violências herdadas do colonialismo. “Educar é mais que instruir: é libertar, é construir possibilidades para um mundo em que a justiça social seja realidade e não promessa”, afirmou.
No segundo dia de programação, Mauro apresentou também a palestra “Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites”, na qual refletiu sobre as formas de controle simbólico exercidas sobre corpos e identidades negras. “O medo das elites não está apenas na presença física do negro, mas em sua potência de ruptura, em sua capacidade de reexistência e de reinvenção de narrativas”, provocou.
A partir da perspectiva do pensamento de Frantz Fanon, o professor Túlio Barbosa (UFU) conduziu a palestra , chamando a atenção para a urgência de enfrentar os mecanismos de desumanização ainda presentes na sociedade. “Fanon nos chama à ação, à responsabilidade ética e política diante das injustiças que atravessam nossos corpos e territórios”, destacou.
Na última atividade do evento, a professora Jane Maria dos Santos Reis (UFU) ministrou a palestra “Racismo e racismo ambiental”, em que discutiu como as desigualdades estruturais moldadas pelo colonialismo continuam a afetar territórios, políticas públicas e condições de vida. “O racismo ambiental não é um fenômeno isolado; ele é o prolongamento das desigualdades raciais estruturais que foram inauguradas no período colonial”, explicou.
Para Gustavo Toledo, da Associação Mineira de Diversidade, o minicurso ampliou o debate acadêmico e social, "proporcionando uma análise crítica dos legados do colonialismo e do racismo que andam intimamente ligados, permitindo compreender as raízes das desigualdades raciais, e promovendo a reflexão sobre nossos próprios preconceitos e um olhar voltado à sistemática desses problemas para que possamos, enfim, nos manifestar de forma efetiva na quebra dessa estrutura colonialista e racial que ainda molda o pensamento da sociedade e provoca tamanha desigualdade entre nossos povos.”
Claudemir Oliveira Souza, membro do Neabi, destacou o caráter formativo e plural da atividade. “O evento foi uma oportunidade ímpar para servidores e estudantes refletirem, no espaço acadêmico, os impactos do colonialismo europeu nos povos indígenas e afrodescendentes do Brasil. Importante também para a valorização da diversidade e formação de pessoas conscientes quanto ao nosso passado e o que essas ações refletem no nosso presente”, avaliou.
Para Maria Djanira de Oliveira, presidenta do Neabi e coordenadora Assuntos Étnico-raciais e indígenas do campus, o minicurso cumpre a missão de inserir a temática étnico-racial como eixo transversal na formação. “Eventos como este reafirmam o compromisso institucional com uma educação antirracista e com a valorização das epistemologias dos povos afro-brasileiros e indígenas. Ao debater o pensamento anticolonial, abrimos caminhos para construir uma sociedade mais justa e plural, em que todas as vozes possam ser ouvidas e respeitadas.”
O diretor-geral do campus, Bruno Pereira Garcês, também ressaltou o papel do evento na formação crítica da comunidade acadêmica. “Discutir as estruturas do colonialismo e seus efeitos atuais é também educar para a consciência, para a empatia e para o enfrentamento das desigualdades. Esse tipo de ação mostra que o IFTM está comprometido com a transformação social por meio do conhecimento.”
O evento foi realizado em alusão ao dia 13 de maio, data que marca oficialmente a abolição da escravidão no Brasil, em 1888, mas que também convida à reflexão crítica sobre as persistentes desigualdades raciais no país e integra o conjunto de ações formativas desenvolvidas pelo Neabi no IFTM Campus Uberaba.