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Araticum: o sabor do Cerrado que se tornou um ícone do IFTM Campus Ituiutaba

De fruto abundante na vegetação nativa a geleias e pesquisas acadêmicas, o araticum consolida-se como símbolo de identidade, inovação e hospitalidade para os JIF IFTM 2025
Publicado em 30/06/2025 15:20 Atualizado em 30/06/2025 15:42
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Mosaico de quatro fotos tiradas no IFTM Campus Ituiutaba: 1. Pé de araticum; 2. A fruta araticum ainda no pé; 3. Dona Neusa produzindo geleia de araticum no campus; 4. Envase da geleia de araticum
Mosaico de quatro fotos tiradas no IFTM Campus Ituiutaba: 1. Pé de araticum; 2. A fruta araticum ainda no pé; 3. Dona Neusa produzindo geleia de araticum no campus; 4. Envase da geleia de araticum
Crédito: Danilo Almeida - Diretoria de Comunicação Social e Eventos do IFTM

No coração do Cerrado, onde a resiliência da flora nativa pulsa forte, um fruto tem se destacado não apenas por seu sabor exótico, mas por carregar a identidade de uma instituição. O araticum, antes apenas um componente da paisagem do IFTM Campus Ituiutaba, floresceu para se tornar um símbolo de inovação, tradição e da rica biodiversidade local, prometendo ser o cartão de visitas oficial nos Jogos dos Institutos Federais (JIF) IFTM 2025.

O araticum é um presente genuíno do Cerrado brasileiro. Parente de frutas como a graviola e a pinha, ele está perfeitamente adaptado ao clima e ao solo da região. "Sua floração ocorre entre setembro e janeiro, e a frutificação vai de outubro a abril. A espécie está bem adaptada ao período de estiagem graças ao seu sistema radicular robusto e profundo", explica Jacson Hudson Inácio Ferreira, diretor-geral do Campus Ituiutaba.

Essa resiliência é um espelho da própria história da área do campus. Com 346 hectares, o terreno, que até 2010 era ocupado por posseiros com atividades de agricultura e pecuária, passou por um intenso processo de recuperação ambiental. “Com o passar dos anos, observamos o retorno de diversas espécies frutíferas típicas da região, sendo o araticum uma das mais abundantes. Sua capacidade de dispersão é notável, com mudas espontâneas surgindo até mesmo nos gramados e jardins”, detalha Jacson.

Foi essa abundância que acendeu a faísca da curiosidade e da inovação. “Diante da riqueza desse recurso natural e de seu potencial, iniciamos uma série de testes e experimentações visando seu uso sustentável”, completa.

As mãos que transformam: a paixão de Neusa pela culinária

A jornada de transformação do araticum em iguarias tem uma protagonista: Neusa Maria Barbosa, que trabalha no laboratório de agroindústria do Campus Ituiutaba. Com uma trajetória de quase 30 anos no IFTM, iniciada em 1995, Neusa já passou por diversos setores, da lavanderia à assistência de alunos, mas foi na culinária que encontrou sua verdadeira paixão. “Eu sempre gostei muito da culinária. Eu sou apaixonada pela transformação dos alimentos”, revela.

Essa paixão tem raízes na infância. "Eu já conhecia o araticum porque meu pai sempre apresentou para a gente os frutos do Cerrado. Ele nos levava para colher piqui, araticum, caju", relembra. A redescoberta no campus foi um convite à criatividade. "Um senhorzinho, seu Paulo, chegou e me mostrou os frutos. Eu falei: 'nossa, que bom, vou fazer um sorvete'".

A partir daí, Neusa não parou mais. Ela desenvolveu técnicas para aprimorar o uso da polpa, superando o desafio da textura arenosa do fruto. “Tive a ideia de processar, passar na peneira e depois em um tecido chamado 'volta ao mundo', usado para fazer queijos. Deu super certo! E foi aí a ideia de transformar em suco, sorvete e geleia”, conta, orgulhosa.

A produção da geleia é um processo quase artesanal, guiado pela experiência. Após colher e higienizar os frutos, Neusa bate a polpa, coa em peneira e no tecido, e leva ao fogo com açúcar. A quantidade varia. “Quando ele tá bem madurinho, uso 50% de açúcar. O ponto eu meço no 'olhômetro'. Coloco um pouco da geleia num pires, viro ou passo o dedo no meio. Se não escorrer e não juntar, está no ponto ideal. Gosto mais da prática”, descreve.

Seu trabalho vai além da produção: é um resgate cultural. "É uma fruta pouco conhecida. Muita gente não tem o hábito de consumo. Mas as pessoas mais velhas gostam, se lembram da infância. Tivemos um evento no IF e servimos o suco de araticum. Foi um sucesso, porque resgata o uso de um fruto do Cerrado que está esquecido. Isso para mim é muito importante", afirma.

Da tradição à ciência: projetos ampliam o potencial do fruto

A paixão de Neusa inspira também a academia. O desejo de aprofundar os estudos sobre o araticum já rende frutos, como um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a produção de sorbet, orientado pelo professor Eduardo Borges, coordenador do curso de Agroindústria e filho de Neusa.

“O objetivo foi desenvolver e avaliar as características de um sorbet de araticum. Tivemos uma boa aceitação global do produto, com destaque para a textura e a cor”, explica o professor Eduardo. A pesquisa, no entanto, revelou um desafio. “O aroma teve uma baixa avaliação, o que é curioso, pois outros relatos na literatura apontam a mesma questão. É um desafio sensorial a ser trabalhado”.

A pesquisa básica abre um universo de possibilidades. “A motivação é grande, pois pesquisar frutos nativos envolve uma simbologia e uma significância cultural imensa”, destaca Eduardo. “Os próximos passos incluem parcerias para avaliar aspectos mais complexos, como o perfil de fitoquímicos, a capacidade antioxidante e como esses componentes se preservam durante processos industriais, como a pasteurização”.

Embora ainda não existam outros projetos em andamento, o campo é vasto. “Pela ausência de dados na literatura, temos muitas possibilidades a serem exploradas, principalmente no desenvolvimento de novos produtos”, conclui o professor.

Um símbolo de boas-vindas: araticum será o sabor dos JIF IFTM 2025

Todo esse trabalho, que une meio ambiente, tradição e ciência, culminará em um gesto simbólico de hospitalidade. Durante os Jogos dos Institutos Federais (JIF) de 2025, que serão sediados no Campus Ituiutaba, a geleia de araticum produzida no laboratório será distribuída como um presente especial para professores e autoridades.

Mais do que uma lembrança, o doce representará a essência do campus: um lugar que valoriza suas raízes, recupera seu bioma, incentiva a criatividade de seus servidores e transforma recursos naturais em conhecimento e inovação. Será, literalmente, o sabor de boas-vindas do IFTM Ituiutaba, um gosto autêntico do Cerrado que floresceu para se tornar a alma da instituição.

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