FONEPT

Campus Uberaba Parque Tecnológico sedia o 2º Fórum Nacional de Educação Profissional e Tecnológica

O evento on-line, organizado pela 8ª turma do ProfEPT, teve como tema "Construindo caminhos: a educação integral como resistência à reforma do ensino médio", cujo objetivo foi debater estratégias e práticas relacionadas à educação integral frente aos desafios impostos pela reforma atual
Publicado em 01/10/2025 13:19 Atualizado em 01/10/2025 13:42
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Crédito: Comunicação do Campus Uberaba Parque Tecnológico

Na última quinta-feira (25), o Campus Uberaba Parque Tecnológico, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), sediou o 2º Fórum Nacional de Educação Profissional e Tecnológica (FONEPT). Organizado pela 8ª turma do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), teve como tema "Construindo caminhos: a educação integral como resistência à reforma do ensino médio", cujo objetivo foi debater estratégias e práticas relacionadas à educação integral frente aos desafios impostos pela reforma atual. O evento contou com participação aproximadamente 170 espectadores na transmissão ao vivo pelo canal do campus no YouTube.

A abertura contou com a participação do reitor Prof. Dr. Marcelo Ponciano da Silva, do Diretor Geral Substituto Prof. Dr. Clidenor Ferreira de Araújo Filho, da Coordenadora Geral do ProfEPT em âmbito nacional do Instituto Federal do Espírito Santo Profa. Dra. Pollyana dos Santos, do Coordenador do ProfEPT no IFTM Prof. Dr. Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes, e do mestrando da 8ª turma do ProfEPT IFTM Tiago Alves de Sousa.

A mesa-redonda foi mediada pelo Prof. Dr. Geraldo Gonçalves de Lima que após a apresentação dos participantes concedeu a palavra para Paulo César da Silva Rocha, diretor e professor no Canal Bora Aprender no Youtube. Ele abordou o paradoxo da educação profissional e tecnológica: entre a resistência e a sabotagem no que tange ao novo ensino médio. César fez questão de destacar com "aspas expressivas" para marcar o tom deste evento que busca desvendar o que essa "novíssima" reforma realmente representa para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Brasil. Ao longo de sua fala, trouxe reflexões sobre uma rede de resistência que, contra todas as adversidades, insiste em uma missão que parece "impossível" formar cidadãos completos, críticos, tecnicamente competentes e humanamente desenvolvidos.

César mencionou também que essa meta é constantemente ameaçada por um ciclo de "avanços e retrocessos" na educação brasileira. A EPT apesar de sua importância, ainda paira sobre si uma "certa obscuridade" sobre sua verdadeira natureza perante o grande público que a percebe como uma "escolinha de profissionalização" ou uma "alternativa para quem não vai fazer faculdade". Reduzir a EPT a algo "raso, simplista, tecnicista" é negar uma divisão histórica da sociedade brasileira. E concluiu dizendo que esse evento, o FONEPT, que traz essa proposta de uma união, de um intercâmbio entre os pares, nos permite um abordar um pensamento crítico.

Em seguida, a palavra foi concedida à professora Maria Lucilene Belmiro de Melo Acácio, do Instituto Federal do Acre (IFAC), que alertou sobre a necessidade urgente de "recusar a redução da nossa juventude a mera força de trabalho barata." Criticou a lógica predominante que desvaloriza a formação humana integral em prol de interesses de mercado. Uma pressão que é sentida de forma intensa no cotidiano da docência, especialmente com a avalanche de novas tecnologias lançadas que "são convertidas em exigências para o trabalho docente" o que gera uma cobrança automática para que os professores a "abracem". Caso o docente não se adapte no tempo e na forma esperada, essa resistência ou dificuldade é rapidamente associada ao "fracasso" do processo educativo. Os professores são, então, "acusados de desatualizados," numa visão em que a professora classifica como um "reducionismo da compreensão do processo educativo." A crítica principal de sua reflexão reside no fato de que essa abordagem desconsidera a centralidade da docência, que vai muito além da "mera atualização técnica". Por fim, conclui sua fala dizendo que a resistência à lógica mercantil da reforma do ensino médio deve passar necessariamente pela valorização da docência e pela construção de práticas pedagógicas que formem sujeitos capazes de compreender e transformar o mundo em que vivem.

Já a professora Mônica Ribeiro da Silva, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), iniciou sua participação no evento com uma postura provocativa, enfatizando a relevância do questionamento em detrimento de respostas prontas. "Saber fazer a pergunta é muito mais importante do que trazer as respostas. Eu estou convencida disso, felizmente," criticando aqueles que se apropriam de palavras-chave e as "jogam ao vento." Apontou uma tendência preocupante nos Institutos Federais (IFs) como a ampliação de cursos de curta duração, oferta de cursos a distância "precarizados", aumento de cursos concomitantes e a diminuição dos cursos na forma integrada.

A professora alertou que muitos professores recém-ingressos nos IFs não acompanharam o debate inicial (entre 2004 e 2008) e
que muitos não tem acesso porque esse debate é pouco feito e as pesquisas mostram isso. "O ensino médio integrado não é um curso com matrícula única, ele é uma concepção de educação que articula indissociavelmente a formação científica básica da formação para o mundo do trabalho, tendo a ideia de princípio educativo do trabalho como um elemento."

Ela criticou duramente a prática atual que separa as áreas "a gente vai continuar fazendo de um lado a formação básica, como história e geografia por exemplo, e do outro lado as disciplinas técnicas. Não integra nada e chama de Ensino Médio Integrado." Aproveitou e ressaltou que a Lei 13.415 é, sim, um "elemento de fragilização do ensino médio integrado e da formação técnica e profissional." O principal perigo está na permanência dos itinerários formativos, especialmente quando permanece a utilização de 600 horas ou quando permite-se usar parte da carga horária da formação básica para o itinerário técnico, como se fossem "equivalentes. Não há como fazer educação integral, Ensino Médio Integrado nessa perspectiva." sentenciou.

Mônica termina dizendo “o quanto mudaram as ideias, por exemplo, uma ideia que orienta a educação profissional e que hoje está na boca das fundações privadas, que é o formar para empreender. Isso destoa da ideia que defendemos de que educação integral não é formar para o subtrabalho ou trabalho precário, para exploração do trabalho juvenil e da pessoa adulta, falamos de uma educação profissional associada à formação crítica do mundo em que a gente vive, inclusive crítica em relação à exploração do trabalho, e não é essa a ideia que tem se tornado hegemonia hoje, lamentavelmente”.

A parte final do fórum foi com o professor Sidinei Cruz Sobrinho, do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSUL). Ele apresentou uma crítica incisiva à falta de clareza conceitual e à postura de "adequação" dos IFs diante do novo ensino médio. Sua pesquisa, baseada na análise de mais de 700 teses e dissertações, revelou uma "confusão conceitual" alarmante sobre formação integral constantemente confundida com escola em tempo integral e currículo integrado.

Quando indagado por outros profissionais sobre o que os IFs deveriam fazer para se adequar à nova legislação, Sidinei Cruz foi categórico "nada." O professor defende que a pergunta correta não é como se adequar, mas sim "como fazer para resistir" e demonstrar que a concepção educacional dos Institutos se opõe ao espírito da reforma. Quando se compreende a concepção de Formação Humana Integral, a dimensão ontológica do trabalho, a indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, e a ideia do trabalho como princípio educativo e da pesquisa como princípio pedagógico, a conclusão é inevitável "essa concepção de educação profissional presente na Lei 11.892 se opõe completamente à ideia presente no novo ensino médio."

"É preocupante quando reitores, diretores, coordenadores de curso e professores fazem propaganda e publicam nas mídias sociais: 'Instituto tal, campus tal já começou as discussões para adequação ao novo ensino médio' ou 'está produzindo material para o novo ensino médio'." Buscar a adequação é, em essência, "negar os próprios institutos federais considerando a sua origem." destacou Sidinei.

O professor também destacou a dificuldade de muitos docentes em compreender a diferença entre norma vinculante (obrigatória) e norma discricionária (sujeita à realidade e à decisão institucional), ressaltando que a falta de clareza legal contribui para a confusão na hora de definir a resistência. E lamenta que a rede continue "apenas discutindo como rede e agindo individualmente," revelando uma "carência epistêmica" sobre as políticas educacionais.

Em sua reflexão Sidinei conclui que a rede precisa superar essa carência e ressignificar a resistência, consolidando uma identidade institucional que seja pedagógica e administrativamente coesa. Além disso, é necessário debater se os IFs ainda estão dispostos a defender a política para a qual foram propostos, especialmente quando políticas federais atuais impõem agendas de cima, como a destinação de orçamento, Pronatec ou cursos acelerados para atingir metas de "performatividade" que reforçam a fragilização do sistema dos institutos.

O conteúdo completo poderá ser acessado canal do campus no YouTube

 

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