V CONERER discute Relações Étnico-Raciais e Educação
Crédito: Munís Pedro Alves e Ana Rita Silva - IFTM Campus Patos de Minas
Durante o V Congresso Nacional de Educação para as Relações Étnico-Raciais (CONERER), realizado de 24 a 26 de novembro no Campus Patos de Minas do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), foram discutidas questões relevantes relacionadas às relações étnico-raciais. O evento, que contou com a participação de servidores, pesquisadores do IFTM e convidados externos, promoveu uma programação com nove atividades, incluindo palestras, mesas-redondas, minicursos e oficinas.
As atividades foram iniciadas às 13h30 do dia 24 de novembro, em Patos de Minas, com um ambiente permeado por grande expectativa e emoção. A apresentação do grupo Sankofa selou as apresentações do primeiro dia, deixando a sensação de que, apesar de pequenos contratempos, o congresso estava destinado ao sucesso.
No teatro Leão de Formosa, na V edição do Conerer, ocorreu a primeira mesa-redonda, sob o título “De)colonialidade e interculturalidades na formação brasileira” que colocou em pauta o papel da educação na luta antirracista. Mediado pelo professor Munís Pedro (IFTM), o debate contou com a participação da professora Fabiana Lopes Corrêa, que foi professora substituta no IFTM Patos de Minas, do professor Arthur Willian Soares Alves (UNIPAM) e do professor Elvis Rezende Messias (IFTM).
Durante a explanação, o professor Elvis Rezende Messias provocou os presentes com a seguinte reflexão: “O que nós estamos falando quando falamos de educação? Isso é fundamental para nos libertar das amarras racistas. Não é qualquer tipo de educação que é uma educação antirracista.” Ele complementou, alertando sobre a persistência do racismo: “Enfim, sem atenção a isso, o racismo e outras marcas de colonialidade cultural seguirão reproduzidos com múltiplas facetas. É de fato fundamental ocupar os lugares historicamente negados à maioria da população brasileira, mas com uma perspectiva outra que não aquela legitimada pela colonialidade cultural persistente, eurocêntrica, ocidental-cêntrica. Sim, o racismo é um problema educacional, e a sua superação requer um processo formativo cada vez mais profundo, explicitamente anti-machista, des-norteado, antirracista.”
A professora Fabiana Lopes Corrêa, por sua vez, destacou a importância de uma revisão na estrutura do sistema educacional. “A gente pode pensar numa educação que extrapola a dimensão da escola, uma educação que extrapola a dimensão formal e que se constrói cotidianamente. Todos os espaços são educativos. Tudo na escola é currículo, mas tudo fora da escola também ensina”, afirma Corrêa.
Outro painel que emocionou e fez refletir foi a mesa-redonda sobre "O Ensino Clínico e Auxílio Técnico-Jurídico às Comunidades Indígenas". Este debate apresentou o trabalho da Faculdade de Direito da Faculdade Patos de Minas (FPM) junto à Aldeia Xukuru-Kariri Renascer Wakonã, localizada em Presidente Olegário (MG). A conferência contou com a presença da Cacica Giselma Ferreira de Brito, militante e representante indígena, ao lado de Michelle Lucas Cardoso Balbino, coordenadora do curso de Direito da FPM e de Vinicius Pereira Passos, estudante de Direito e professor na escola indígena da aldeia, que desenvolve atividades de educação intercultural.
A Cacica Giselma compartilhou sua experiência transformadora em um curso intercultural para educadores indígenas, destacando a descoberta de sua própria força e identidade fora dos ambientes acadêmicos tradicionais. "E lá eu consegui entender isso. Então pra mim foi novo, porque a gente chegou num grupo de 110 cursistas do estado de Minas Gerais para fazer o primeiro curso intercultural para educadores indígenas de Minas Gerais, para uma grande universidade, mas nós não entendíamos que ali era um espaço que a gente não sabia nem como ocupar.”, expressou Giselma. “Aprendi muita coisa, criei meus próprios conceitos e hoje eu defendo a parceria. Que que é parceria? É parceria das academias, dos direitos indígenas, como também direito de qualquer povo, seja ele indígena ou não indígena.", complementou a cacica.
A fala da Cacica Giselma levou a todos a uma profunda reflexão, sublinhando que o encontro ia muito além de um momento cultural, mas sim uma oportunidade para desconstruir preconceitos. Ela enfatizou a importância da quebra de estereótipos, uma vez que “Aqui temos uma oportunidade para que todos possam respeitar e se reconhecer como um descendente indígena - o qual todos nós somos.” A líder indígena reforçou ainda a incessante e histórica luta de seu povo por direitos fundamentais, como o direito ao território, ao respeito e à dignidade. Suas palavras ressoaram como um chamado à ação e ao reconhecimento da herança indígena que permeia a identidade brasileira.
Após a abertura oficial, a programação também incluiu a mesa-redonda "Políticas afirmativas de promoção da igualdade racial", integrada à IV Semana Municipal da Consciência Negra de Patos de Minas. A discussão reuniu vozes atuantes no combate ao racismo e na valorização da diversidade, como Élida Mariana Abreu, quilombola, produtora cultural e fundadora do Coletivo MADA, Paulo Henrique Rodrigues Moreira, Secretário de Cultura de Patos de Minas e mediação de Geenes Alves da Silva, técnico historiador Diretoria de Igualdade Racial, Memória e Patrimônio (DIMEP) de Patos de Minas.
Élida Mariana Abreu ressaltou o poder transformador da cultura e da representatividade: "Eu acredito que a gente possa emocionar as pessoas. É muito difícil, mas é libertador. O congado não é só cor e dança. É uma história de luta, de resistência e de conquistas.” Élida exaltou o papel dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABIs) na valorização dos saberes ancestrais: “Afirmativas é isso. É a inserção dos nossos corpos negros em todos os espaços. E o NEABI e o IFTM fazem isso muito bem. (...) não existe nenhuma forma de opressão, de liberdade da opressão, de qualquer opressão, se não for através da educação.”, sublinhou Abreu sobre a relevância das políticas afirmativas.
O V CONERER reafirmou a importância do diálogo contínuo e da educação como ferramentas essenciais e indispensáveis para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, promovendo reflexões sobre as relações étnico-raciais no Brasil.
