Campus Uberlândia Centro marcou presença no V Congresso Nacional de Estudos das Relações Étnico-Raciais 2025
Crédito: Bolsistas do projeto IF em Rede
O Campus Uberlândia Centro, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), marcou presença na edição 2025 do Congresso Nacional de Estudos das Relações Étnico-Raciais (Conerer), realizado entre os dias 24 e 26 de novembro, em Patos de Minas, com um grupo de 60 jovens, além de professores da unidade. Mais do que uma oportunidade para que estudantes do Campus participassem das atividades, o IFTM Uberlândia Centro teve papel protagonista ao longo do Conerer. Na abertura cultural do evento, o Coletivo Corpo Ancestralidade fez apresentações culturais logo na abertura do Congresso e o Coletivo Enegre-se conduziu uma roda de conversa que fez parte da programação. Outro momento de destaque foi a homenagem feita pela Reitoria ao professor Dickson Duarte pela sua contribuição às comissões e Grupos de Trabalho do congresso.
As atividades do campus tiveram início no Teatro Leão de Formosa, onde os estudantes apresentaram os espetáculos Corpos dessa Terra: Territórios Originários e Ancestralidade Urbana: Experimentos Coreográficos. As coreografias, conduzidas pelo professor Dickson Duarte, integraram a programação cultural da tarde de abertura e destacaram produções inéditas construídas ao longo do ano letivo em ações de formação do Coletivo de Danças Afro-Brasileiras. A participação do campus ocorreu diante de um público formado por estudantes de diversos campi, servidores do IFTM e comunidade externa.
No dia seguinte, a programação também contou com a presença de estudantes do Coletivo Enegre-se, que representaram o campus na roda de conversa realizada no Auditório do Bloco 2. A atividade fez parte do eixo formativo do congresso e reuniu estudantes para compartilhar experiências e dialogar sobre temas relacionados às relações étnico-raciais no contexto institucional. A participação reforçou iniciativas estudantis que têm atuado em ações de reflexão, acolhimento e circulação dentro do campus.
O professor Dickson Duarte recebeu menção honrosa da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura e da Pró-Reitoria de Ensino por sua atuação científica no evento. O docente participou da construção de diferentes edições do congresso, nas quais já atuou com a coordenação de Grupos de Trabalho e integrou comissões responsáveis pela avaliação de resumos e desenvolvimento da programação acadêmica. “A Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, juntamente com a Pró-Reitoria de Ensino, homenageou as pessoas que estiveram na construção do Conerer desde a sua primeira edição”, afirmou. “Reconhecendo a importância, sobretudo, dos professores negros da instituição que sentiram o desejo institucional de criar esse evento, que já está na sua quinta edição, como um lugar de tratar a aplicação da Lei Federal 10.639, de cumprir a lei no sentido de pensar a permanência e o êxito dos estudantes pretos na instituição.”
A diretora geral do Campus Uberlândia Centro, Lara Kuhn, fez parte da comitiva do Campus Uberlândia Centro que participou das atividades do Conerer 2025. A gestora destacou a importância das atividades e da participação estudantil.
“Participar do Conerer é fundamental para ampliar a formação dos nossos estudantes e fortalecer o compromisso do IFTM com a educação das relações étnico-raciais. O evento reúne ações formativas, culturais e acadêmicas que contribuem diretamente para a construção de uma escola mais inclusiva e consciente de seu papel social”, afirmou.
Apresentações culturais do campus
As apresentações do Coletivo Corpo Ancestralidade foram bem recebidas pelo público presente e destacaram diferentes abordagens corporais e estéticas relacionadas às temáticas do congresso. O espetáculo Corpos dessa Terra: Territórios Originários trouxe referências ligadas à ancestralidade indígena e ao território, enquanto Ancestralidade Urbana: Experimentos Coreográficos dialogou com danças urbanas e suas relações com culturas negras periféricas. Ambos os trabalhos foram apresentados pela primeira vez no congresso.
Segundo o professor Dickson Duarte, a experiência teve impacto significativo para os estudantes, especialmente para aqueles que estão concluindo o Ensino Médio Integrado. “Para os estudantes ficou uma experiência muito positiva. Sobretudo para aqueles que estão saindo agora no terceiro ano: a experiência de ter participado do Conerer como um evento que, para além de discutir as pautas pretas, eles puderam falar através dos seus corpos, das suas existências pretas, das suas vidas e referências”, destacou. Ele também ressaltou que o público reagiu de maneira entusiasmada. “Considero que as apresentações do Campus Uberlândia Centro de fato cumpriram a expectativa de levar dois trabalhos praticamente inéditos, que foram muito bem recebidos pela comunidade de Patos de Minas, pelos estudantes dos outros campi e também pela comunidade de professores e servidores.”
Participações formativas e circulação estudantil
A programação do CONERER reuniu oficinas, rodas de conversa, palestras e atividades culturais que abordaram temas diversos, como políticas afirmativas, permanência estudantil, identidade racial, gênero, educação indígena e ações de promoção da igualdade racial. A presença do Campus Uberlândia Centro nas atividades formativas ocorreu sobretudo por meio dos estudantes do Coletivo Enegre-se, que participaram de roda de conversa e tiveram a oportunidade de dialogar com estudantes de outros campi do IFTM.
Além da participação na roda de conversa, estudantes do Coletivo Enegre-se também relataram experiências de circulação e troca com outros campi do IFTM ao longo da programação. Para o professor Fabrício Gomes Peixoto, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Campus Uberlândia Centro, o congresso ampliou a visibilidade do coletivo e estimulou outras unidades da instituição a fortalecerem iniciativas semelhantes.
“Na roda de conversa a gente teve a oportunidade de falar um pouco sobre como funciona o nosso coletivo. Essa já é a terceira roda de conversa da qual participamos. Fizemos uma em Uberaba, essa em Patos de Minas e uma no encontro de núcleos de inclusão e diversidade, e nessas três oportunidades nós falamos da maneira como o nosso coletivo se organiza, de como pensamos nossas ações. Isso acabou incentivando muitos campi a pensarem também essa possibilidade”, afirmou Fabrício.
O Enegre-se é o primeiro coletivo de estudantes negros criado no IFTM e auxiliou na criação do coletivo Sankofa, do Campus Uberlândia. “Este ano surgiram mais pessoas interessadas nesse movimento a partir da reunião no núcleo de inclusão e diversidade, razão pela qual a gente pôde então compartilhar essa experiência com outros campi”, complementa Fabrício, que também destacou que os estudantes participaram de diferentes atividades oferecidas pelo Congresso.
“Os alunos também puderam participar de várias atividades, como palestras e oficinas. Teve uma oficina de ecobag, que incluiu a fabricação e construção das ecobags; oficina gastronômica, na qual eles aprenderam vários pratos da culinária afro-brasileira; roda de samba, roda de capoeira, palestras sobre inclusão e diversidade, palestras sobre as relações com a educação e os povos indígenas. Os alunos participaram de várias dessas atividades, às vezes de forma coletiva, às vezes de forma individual.”
Na avaliação de Dickson, esses encontros ampliam a formação dos estudantes, fortalecem vínculos e criam espaços de reconhecimento mútuo. “É também um lugar onde os nossos estudantes, sobretudo os estudantes pretos, encontram um lugar de ‘re-aquilombamento’”, afirmou. Para ele, a troca de experiências faz diferença na trajetória acadêmica. “A potência desses encontros é algo que tem que se destacar. Os nossos alunos verem outros alunos pretos, verem o trabalho de outros alunos e alunas pretas, fortalece eles no sentido de pensar que existem outros iguais.”
O papel acadêmico e institucional do congresso
Nos últimos anos, o Conerer vem se consolidando como um espaço relevante de circulação de pesquisas sobre relações étnico-raciais no IFTM. As apresentações de resumos simples, por exemplo, realizadas no último dia, reuniram trabalhos de diferentes campi e instituições convidadas. Para Dickson, essa dimensão é central para o caráter acadêmico do evento. “O destaque que eu faço aqui é nessa parte de pensar as apresentações dos resumos simples, que aconteceram no dia 26, como um grande braço que sustenta a pesquisa nas temáticas pretas”, afirmou.
Os debates desenvolvidos ao longo do congresso abordaram temas como Lei de Cotas, legislação que trata da presença de pessoas pretas em cargos de gestão, políticas de permanência estudantil e formação docente. Segundo Dickson, a participação de estudantes brancos nessas discussões também é fundamental para a construção de uma educação plural. “Há que se pensar que o Conerer precisa também ser um espaço de formação e letramento para os estudantes brancos”, pontuou. “Para que esses estudantes compreendam a importância dessas pautas, de se pensar uma sociedade antirracista e uma escola que, de fato, seja plural.”
Para o professor Fabrício, o congresso se consolidou como um dos espaços mais importantes da instituição para debates sobre inclusão, diversidade e ações afirmativas. Segundo ele, o evento contribui para o letramento racial e para a construção de uma cultura institucional mais atenta aos desafios enfrentados por estudantes negros e indígenas.
“Eu considero o Conerer um dos eventos mais centrais na discussão sobre a inclusão nos Institutos Federais, não só no IFTM. Esse evento é muito interessante porque ele possibilita a formação e letramento, que é uma questão muito importante nos núcleos de estudo. Tem palestras, tem roda de conversa, tem discussões que fortalecem isso”, avalia Fabrício.
“É também um espaço de encontro, fundamental quando as pessoas estão produzindo trabalhos de pesquisa, de ensino, de extensão. É um espaço de compartilhamento de experiências. Às vezes a gente está fazendo uma coisa super interessante e transformadora no nosso Campus, e outros campi poderiam fazer também, mas não têm nem a dimensão da possibilidade disso. Em um evento como esse podemos trocar informações e perceber coisas que a gente faz e são muito legais, e também coisas que a gente não faz e que são muito legais que outros campi estão realizando e que a gente pode aprender com eles.
