Finalista em feira nacional, trabalho desenvolvido por estudante do IFTM Campus Uberlândia Centro visa combater as fake news
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Qualquer pessoa que navega pela internet certamente já foi exposta a uma notícia falsa, as chamadas fake news. Se você é brasileiro, então, suas chances de se deparar com informação inverídica é ainda maior, afinal o Brasil é o 1º país do mundo mais preocupado notícias falsas, segundo relatório do Instituto Reuters. Pensando no perigo que as fake news representam, uma estudante do Campus Uberlândia Centro, ao lado de alunos de outras duas escolas de outras regiões do país, está desenvolvendo uma ferramenta que usa a inteligência artifical para detectar e combater esse tipo de conteúdo. O trabalho em desenvolvimento foi apresentado na Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC) e está entre os finalistas da competição nacional, que acontece virtualmente ente os dias 23 e 26 de junho.
A equipe envolvida com o Projeto Kimera, como foi batizado, aconta com a estudante Bianca Mitie Menezes de Azeredo, do 3º período do curso técnico em Redes de Computadores, do IFTM Campus Uberlândia Centro; com Emili Terezinha Barbacovib, ex-aluna do Instituto Federal de Santa Catarina, Campus Gaspar; e Hugo Luis Gomes Souza, ex-aluno da Escola Estadual Desmilton Armando Pompeu de Barros, da cidade de Colíder, no Mato Grosso. Trio de jovens cientistas, orientado pela professora Maria Fernanda Soares de Almeida, do Campus Udicentro, está desenvolvendo um extensão para ser usada nos navegadores de web que vai ajudar os internautas a se protegerem contra as fake news.
A extensão ainda está em desenvolvimento, mas quando estiver pronta será capaz de apontar para o usuário se determinado texto lido é uma informação verdadeira ou falsa. Para isso, o grupo trabalhou com inteligência artificial para criar uma rede neural recorrente, capaz de identificar padrões, fazer comparações e apontar o que verdadeiro ou não.
“Trata-se de uma inteligência artificial que consegue, a partir de dados pré-classificados, identificar se uma notícia é verdadeira ou faz falsa na internet. A rede neural recorrente que criamos é disponibilizada em forma de extensão do Google. Durante a navegação web, se a pessoa quiser verificar se uma notícia é falsa ou verdadeira, basta ela acionar essa extensão no computador dela e a extensão diz se a notícia é verdadeira ou se a notícia é falsa. O diferencial do nosso projeto é que essa rede neural é treinada usando bancos de brasileiros, então a precisão dela é no idioma português, com qual estamos habituados. Outros projetos anteriores ao nosso só foram feitos usando dados pré-classificados no idioma inglês. A taxa de precisão dessa rede neural, ainda em desenvolvimento, está em 97%, que é muito alta”, afirma Bianca.
Para a professora Maria Fernanda, a ferramenta pode ser muito importante na batalha contra as fake news. “A desinformação e a circulação de notícias falsas têm ganhado força atualmente, principalmente através de plataformas de mídias sociais. É notório o prejuízo que a circulação de notícias inverídicas podem causar em nossa sociedade. Uma ferramenta gratuita, que possibilita a detecção de fake News durante a navegação web, tem grande potencial de diminuir os impactos negativos de informações falsas veiculadas a todo momento. Em um ano eleitoral tal ferramenta é importante e necessária”, avalia.
Desenvolvimento da ferramenta
Para criar a metodologia, o primeiro passo do grupo de jovens cientistas foi encontrar dados de notícias diversas para realizar o treinamento do modelo de rede neural. Utilizando a plataforma Fake.BR Corpus, eles tiveram acesso a uma coletânea de notícias em português reunida especificamente para projetos de detecção de fake news com algoritmos. Esse conjunto possui cerca de 5200 exemplos de notícias divididas igualmente entre verídicas e inverídicas.
Em seguida, há uma fase de pré-processamento, no qual aplicam-se algoritmos para simplificar o texto e ajudar a rede neural a identificar os elementos textuais. Posteriormente, o grupo montou um conjunto de dados para teste, formado por notícias nunca antes vistas pela rede neural, a fim de obter a precisão da rede, simulando as situações de uso na vida real da rede, onde ela se deparará com várias notícias diferentes das utilizadas durante o treino.
O grupo agora vai oferecer a ferramenta para testes cotidianos, com usuários da internet. Isso será feito a partir do Projeto Kimera, ação de extensão ligada ao IFTM Santa Catarina, que conta com um perfil no instagram e pretende liberar a extensão gratuitamente para o público. No primeiro momento, a intenção é de perceber o feedback dos internautas sobre o uso da ferramenta.
Grupo de trabalho virtual
O encontro dos três jovens cientistas de diferentes regiões do Brasil se deu a partir de outro projeto. Em 2021, os três foram selecionados para um projeto de extensão do Instituto Federal do Espírito Santo, em parceria com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, que visava o combate da desinformação por meio da ciência, chamado de STEAM + Educação Midiática. No projeto, estudantes de diferentes partes do Brasil se dividiram em grupos e foi a partir desse encontro inicial que a ferramenta de detecção de fake news foi criada.
Após a finalização do STEAM, o trio decidiu continuar com o projeto e o inscreveram na FBJC, sob a orientação da professora Maria Fernanda, que ajudou a definir os próximos passos para o desenvolvimento da ferramenta. Na Feira, o projeto de Bianca e seus colegas é um dos 12 que representa Minas Gerais e o único que projeto de Ensino Médio da cidade de Uberlândia.
Sobre a FBJC
A Feira Brasileira de Jovens Cientistas (FBJC) é uma feira de âmbito nacional que tem o objetivo de valorizar os jovens cientistas e seus trabalhos científicos, conectar os jovens cientistas brasileiros, além de impulsar o desenvolvimento da ciência no país entre os jovens. Podem participar brasileiros com ou sem projetos científicos. Estudantes do Ensino Médio ou formados no Ensino Médio a no máximo um ano (que não estejam cursando nenhum curso superior) podem participar como finalistas, enquanto todos os outros interessados podem participar como "Público geral".
Para participar, os projetos devem ser desenvolvidos por no máximo três estudantes, com um orientador maior de 21 anos. Deve ser de natureza investigativa ou de inovação, ou seja, buscando produzir novos conhecimentos ou produtos e não apenas demonstrar algum fenômeno ou processo. Tanto projetos em andamento quanto concluídos são elegíveis e devem ter no máximo um ano de duração. Todos os projetos finalistas concorrem às premiações destinadas aos projetos científicos. Todos os premiados receberão certificados atestando a premiação.
Maratona de Inovação
Uma das atividades da Feira é a Maratona de Inovação, na qual equipes participam de desafios voltados à inovação, criatividade, solução de problemas e design thinking durante um período que antecede o evento e termina nos dias oficiais. Bianca também vai participar dessa etapa, ao lado de estudantes de outras escolas, e já vem com o currículo de quem conseguiu um primeiro lugar nacional em 2021.
“Eu e a Emili estaremos na mesma equipe, mas formaremos a equipe com outras pessoas também, de fora do projeto. A FBJC tem a fase de montagem de equipes para a maratona, o que é bem legal porque temos contato com vários jovens ao redor do Brasil. No ano passado, participei na maratona de inovação com outra equipe e ficamos em primeiro lugar nacional em inovação na área de educação”, afirma.
Os três times que se destacarem em cada trilha serão reconhecidos com medalhas de 1º, 2º e 3º lugares e as equipes colocadas em 1º lugar em cada trilha receberão premiações em dinheiro.
Inspiração no curso de Redes
A estudante Bianca ressalta que a passagem pelo curso técnico em Redes de Computadores serviu para aguçar o interesse pela tecnologia. Segundo ela, o IFTM mostrou que os projetos podem sair do papel e ganhar vida na realidade. “A partir do meu ingresso no IF que eu vi que minhas ideias poderiam ser transformadas em projetos científicos para ajudar a comunidade em que estamos. Foi a partir das matérias que eu estudei que eu comecei a ter um contato maior com tecnologia, e foi a partir daí que a gente começou a desenvolver a inteligência artificial em conjunto. Todas as aulas que eu tive, todos os seminários que eu participei no IF, a alta qualidade da educação no IF me ajudaram muito na construção de projetos científicos. A qualidade das aulas, meus colegas, meus professores e a rede de apoio que eu recebi do IF em si foram fundamentais para o desenvolvimento desse projeto e dos outros”, conta Bianca.
A professora Maria Fernanda também destaca a importância do curso, mas ressalta o protagonismo dos estudantes envolvidos. “Fico muito feliz em saber que o Curso de Redes incentivou e despertou o interesse por tecnologia. Sabemos o quanto essa área de conhecimento tem ganhado importância em nossa sociedade. No curso de Redes, desde o primeiro período, os alunos têm contato com conhecimentos importantes, tais como programação, sistemas operacionais e desenvolvimento de projetos. No caso do projeto em questão, os alunos foram além. Foram autodidatas, criativos e conseguiram expandir por conta própria os conhecimentos adquiridos em sala”, finaliza a professora.