Projeto teatral do Campus Uberlândia Centro tem agenda de apresentações robusta para o segundo semestre
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A partir do dia 19 de setembro acontece no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) o Fórum de Inclusão e Diversidade (FID). O evento, que acontece no Campus Uberaba Parque Tecnológico, traz uma vasta programação em torno de discussões sobre diversidade, mas também marca uma estreia importante para o trabalho cênico que vem sendo desenvolvido no Campus Uberlândia Centro este ano. Estudantes que participam da UCP de Práticas Teatrais, desenvolvida pelo professor Dickson Duarte ao lado de outros professores ao longo de 2023, vão se apresentar no início do evento com uma montagem teatral que vai trazer ao público textos literários de autoras pretas como Cristiano Sobral, Conceição Evaristo e Maria Carolina de Jesus.
A apresentação no FID será curta, mas abre o caminho para os atores e atrizes mirins do Campus galgarem seu caminho ao palco. Afinal, além da apresentação do FID, o grupo teatral já tem apresentações marcadas para o Congresso Nacional de Educação para as Relações Étnico-raciais (Conerer), além da proposta de uma pequena temporada de três dias no espaço cênico do Grupo Pontapé, quando vão apresentar uma versão mais ampliada do trabalho cênico que vem sendo desenvolvido. Independente do palco, a proposta a ser levada pelo público é a mesma, como explica Dickson.
“Como eu faço parte do Neabi (Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas), faz parte da minha perspectiva pensar numa reflexão a partir dos corpos pretos e eu escolhi trabalhar com um livro de poemas da Cristiane Sobral. No meio do processo, surgiram outras escritoras, como Conceição Evaristo e Maria Carolina de Jesus. Trata-se de uma narrativa que vai falar desse processo de descolonização do pensamento. A gente está trabalhando muitas teorias da descolonização, o pacto da branquitude e como a escola acaba se tornando um lugar de reprodução dessas falas pautadas muitas vezes pelo racismo estrutural”, explica.
A UCP nasceu com a ideia de passar algumas técnicas teatrais para os estudantes, mas ao longo do processo os próprios integrantes se interessaram em desenvolver um espetáculo. A UCP contou com o apoio do professor Fabrício Peixoto, que atua na coordenação musical, e no último trimestre vai ganhar o apoio da professora Poliana Cristo, que é cantora e vai colaborar com o processo de estruturação da montagem a partir dessa perspectiva.
Com o nome de “Negras Grafias e Outros Trajetos”, o espetáculo que está sendo construído será dividido em quatro partes. A primeira parte vai falar sobre ancestralidade e a segunda parte são textos sobre empoderamento dos corpos pretos. Na terceira parte, o grupo vai trazer as questões simbólicas, a partir das quais entram a religiosidade e as subjetividades. E o último momento são as questões da percepção da negritude na contemporaneidade. “Queríamos fazer um espetáculo de cunho didático, um cunho de letramento racial, para que as pessoas tivessem contato com essas discussões. Essas discussões não se solidificaram ainda no IFTM, na sociedade, estão presentes apenas em nossas bolhas. A ideia era ser algo mais inicial, mas as cenas estão vindo com muita potência e profundidade e certamente teremos uma montagem de muito impacto”, avalia Dickson Duarte.
“Queremos pensar em escritas dos corpos pretos que perpassem outros trajetos que não sejam os trajetos oficializados pela cultura branca eurocentrada. A grande maioria dos textos trabalhados são de autoras pretas que escrevem a partir de seus lugares de fala e vivências ou, como diz Conceição Evaristo, a partir das suas ‘escrevivências’. Refletir sobre as diversas pautas dos corpos pretos e como essas discussões reverberam na sociedade atualmente”, complementa o professor.
Bem antes do palco
A construção do espetáculo vai muito além do trabalho desenvolvido no palco. Para além de ensaios e escolhas dos textos a serem trabalhados, os estudantes envolvidos terão a chance de trabalhar também com a produção da peça. Serão utilizados conceitos de marketing para a divulgação, sobretudo da montagem mais robusta que será realizada em dezembro. Segundo Dickson, os estudantes vão pensar em técnicas de divulgação, formas de venda de ingresso e outros aspectos em torno da realização da montagem.
Outro aspecto do trabalho evidenciado pelo professor é a participação de estudantes de diversas origens. A UCP congrega estudantes pretos, pardos e brancos e a partir desse espaço eles conseguem promover, juntos, reflexões importantes sobre a luta antirracista, que deve ser um objetivo de todos. “Os alunos brancos que vieram são alunos que reconhecem seus privilégios e lugares de fala, têm um empoderamento do discurso antirracista e vem contribuindo muito. Quando a gente fala de racismo, temos que pensar que tanto pessoas pretas, pardas e brancas, somos todos fruto desse racismo. O branco reproduz, como a pessoa preta também reproduz, pois todos fazemos parte de uma estrutura. Então, todos temos que nos engajar para uma luta que, além de ser antirracista, é uma luta que reconheça qual a importância de cada um, independente da cor de pele, para se engajar na desconstrução desse racismo estrutural. Todos estão refletindo juntos e falando a partir de suas narrativas”, explica.
Teatro como instrumento de conscientização
O professor Dickson Duarte ainda ressalta a importância do teatro como instrumento para promover essas discussões na sociedade. Segundo ele, abordar a discussão antirracista a partir da perspectiva teatral alavanca o potencial de que essa reflexão atinja mais pessoas.
“O teatro é uma ferramenta didática muito potente, pois ele materializa as discussões, ele transforma as discussões em música, em visualidade, em vozes. É uma ferramenta de comunicação muito potente. No campo da educação, essa potência é elevada várias vezes, pois você está num espaço de protagonismo dos estudantes. Quando ele atinge a sociedade, ele vai para além de uma ferramenta, pois não é só um texto e sim corpos vivendo aquele texto. Ele alcança e educa muito, muda muitas perspectivas. As pessoas que tiverem acesso ao trabalho certamente serão tocadas por ele”.
E a tendência é que o trabalho teatral no Campus Uberlândia Centro não pare por aqui. Se em 2023 muitas iniciativas estão sendo criadas, nos anos seguintes o projeto tende a se fortalecer e ganhar novos palcos, seja na própria Uberlândia ou mesmo em outros espaços. A ideia do professor é institucionalizar um grupo de teatro do Campus Uberlândia Centro e assim manter essa UCP ativa para que possa ser um lugar de experimentação contínua. O objetivo é fazer do teatro um lugar de reflexão, mas também de alcançar pessoas que não vivem na comunidade do Campus.
Apresentações previstas
A primeira parada do grupo cênico do Campus, portanto, é a apresentação no Fórum de Inclusão e Diversidade (FID), no dia 19 de setembro, em Uberaba. Na ocasião, será apresentada uma versão sucinta do espetáculo, com a encenação de alguns poucos textos e poemas.
O grupo também já tem agenda na abertura do Congresso Nacional de Estudos das Relações Étnico-raciais (Conerer), que acontece a partir de 21 de novembro, no Campus Uberlândia. O momento mais marcante, contudo, tende a ser a pequena temporada prevista para o mês de dezembro. O Campus firmou uma parceria para utilizar o espaço do grupo cênico do Grupo Pontapé, em Uberlândia.
O objetivo é oferecer um momento em que pais e pessoas ligadas ao Campus, assim como a sociedade em geral de Uberlândia, possa acompanhar a versão completa do espetáculo e vivenciar um pouco do quem vem sendo ensaiado e discutido.