Arte Negra

Pesquisa em dança de estudante de Comércio é tema de curso de formação para professores de Arte

Docentes da Rede Municipal de Educação de Uberlândia conheceram a pesquisa e ainda assistiram à apresentação de dança
Publicado em 25/09/2024 09:46 Atualizado em 25/09/2024 18:34
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15 professores de Artes da rede municipal de Uberlândia participaram da atividade na UFU
15 professores de Artes da rede municipal de Uberlândia participaram da atividade na UFU
Crédito: Divulgação

As pesquisas desenvolvidas no Campus Uberlândia Centro, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), podem ganhar relevância para bem além das conclusões observadas em artigos científicos. É o caso da pesquisa “Texto em Movimento: Pesquisa e criação em dança a partir da obra literária Terra Negra de Cristiane Sobral”. Desenvolvida pelo estudante Kleberson Luis Lopes de Oliveira, do 3º ano do curso técnico de Comércio Integrado ao Ensino Médio, sob a orientação do professor de Artes do Campus, Dickson Duarte, a pesquisa foi apresentada em um momento de formação de professores de arte da rede municipal de Uberlândia. O encontro contou com 15 professores de Artes da Rede Municipal e foi promovido pelo Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (CEMEPE), com objetivo de debater as questões negras que perpassam o ensino das artes com vistas ao cumprimento da Lei Federal 10.639/03.

A apresentação da pesquisa aconteceu no contexto da formação “Diálogos entre Educação, Arte e Africanidades” e aconteceu no Laboratório de Ações Corporais, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Além de professor do Campus Uberlândia Centro, Dickson é docente permanente credenciado ao Mestrado Profissional da UFU com foco nas pesquisas sobre Africanidades, no qual ministra disciplina "Poéticas e Processos de Criação em Arte", e articulou a formação a convite do CEMEPE. O professor Dickson, que tem pós-graduação em nível de doutorado em Educação,  destacou o papel do IFTM no trabalho com pautas negras na educação e integração de seus orientandos em diferentes níveis.

"Cumprindo o seu papel de atuar de forma significativa na sociedade o IFTM já é reconhecido pela seriedade, constância e dedicação na observância das pautas negras na educação. A realização dessa atividade de  formação de professores, em especial, compartilhou diferentes pesquisas dos meus orientandos tanto do IFTM quanto da UFU numa troca de saberes afrocentrados em prol de uma educação antirracista, democrática e plural", afirma o professor. A atividade contou com a participação das mestrandas Geovania Dias e Isabela Abreu, orientadas pelo professor na UFU.

O trabalho de Kleberson, desenvolvido com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem como proposta realizar pesquisa em danças negras e criar performances cênicas baseada na obra de Cristiane Sobral, Terra Negra (2017), utilizando a genealogia negra e as representações culturais afrodiaspóricas para estimular a reflexão e o debate sobre o racismo e o pagamento dos saberes negros com foco na educação básica e tecnológica.

“Eu estou desenvolvendo minha pesquisa desde setembro do ano passo, e ela é uma pesquisa que visa o cumprimento da Lei 10.639/03, que obriga que as questões culturais e históricas dos povos Afro-Brasileiros sejam tratados na escola. O conceito de danças negras, e a valorização das mesmas, são os principais tópicos tratados na pesquisa, tal qual no livro de Cristiane Sobral, Terra Negra,  a partir do qual escolhemos textos, lemos, discutimos e depois de alguns processos, dançamos-os”, explica Kleberson.

Bem recebido pelos professores

Marina Vargas Tomaz, atualmente professora formadora e coordenadora da área de Arte do CEMEPE, ressaltou que a participação dos estudantes do IFTM foi de grande valia para o momento formativo. A apresentação dos estudantes enriqueceu a nossa formação de uma maneira muito especial. Ela foi o fio condutor das discussões, potencializando as reflexões a partir do trabalho artístico, ressaltando a importância de uma prática docente sensível, crítica e antirracista. O compartilhamento das pesquisas desenvolvidas pelas professoras e arte também contribuíram para que a formação alcançasse seu objetivo de forma tão significativa, foi fundamental conhecer os projetos de pesquisa em arte, a partir da própria expressão artística. As práticas e dinâmicas propostas foram muito potentes, pois nos convidaram e nos convidaram a experimentar no corpo, saberes ancestrais", afirmou.

"Os professores de arte se manifestaram positivamente após o encontro. Um deles, publicamente no grupo, compartilhou sua alegria e emoção pela formação, pela relevância do tema e pela forma com que foi conduzida", completou.

“Povoada”

Durante o encontro, antes de apresentar as linhas gerais de sua pesquisa, brindou o público com um fragmento da coreografia “Povoada”, criada a partir da pesquisa coreográfica. Ao lado de Kleberson, estiveram os estudantes Manuella Serafim Machado (1º ano de Comércio), Ana Vitória Silva Lima David (1º ano de Comércio) e  Ana Júlia Silva Lima (3º ano de Programação de Jogos Digitais). “A coreografia busca articular elementos de diferentes matrizes negras como capoeira, dança de rua e carimbó atravessados pela teatralidade e elementos técnicos da dança contemporânea. Como argumento apresenta a potência significativa de mulheres pretas brasileiras numa perspectiva das representatividades e das referências pretas positivas”, explica Dickson, de quem é a concepção e direção da dança. Textos da escritora Cristiane Sobral e a voz da cantora Sued Nunes conferem uma atmosfera sagrada ao mesmo tempo que propõe a reflexão das subjetividades pretas em coletividade.

A pesquisa de Kleberson também serve de base para a Unidade Curricular Politécnica (UCP) “Corpo Ancestralidade: Oficinas de Danças Afrobrasileiras”, ofertada a estudantes do Ensino Médio do Campus. O objetivo da UCP é ofertar espaço para a pesquisa, criação e prática da dança como foco nas danças Afrobrasileiras como um instrumento estético para o cumprimento da Lei 10.630/03 no Campus Uberlândia Centro. Na UCP, as sequências coreográficas montadas a partir da pesquisa de Kleberson estão sendo repassadas aos alunos como base para uma nova composição coreográfica mais ampliada.

Este ano, aliás, as coreografias criadas a partir da pesquisa vão ganhar espaço em um grande evento do IFTM. No dia 12 de novembro, estudantes do Campus vão se apresentar na abertura do Congresso Nacional de Estudos das Relações Étnico-raciais (Conerer) com uma performance intitulada “Eu sou uma mas não ando só!”, criada justamente no âmbito da UCP, que é ofertada por Dickson ao lado da professora Flávia Gomes de Melo Coelho.

“Pra mim, é de extrema importância e honra participar de eventos como o ocorrido na UFU, pois é de extrema urgência que esses assuntos sejam abordados e discutidos no Brasil, visto que ainda é um país cheio de mazelas, sobretudo que recaem sobre os corpos pretos. Ao levar minha pesquisa para outros espaços, que não apenas o do Campus, contribuo para o combate do Racismo no país, até por ser um projeto tão potente. No último evento no qual ele foi apresentado, o mesmo foi coberto de elogios, e além disso, é notório que falar sobre esses assuntos precisa superar o âmbito acadêmico e atingir o social como um todo, pois como citado em meu trabalho, Djamila Ribeiro diz que o racismo não é individual, nem moral, pois está enraizado na sociedade”, completa Kleberson.

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