Exposições no Conerer

Exposições no IV Conerer encantaram os olhos e evidenciaram diversos aspectos da cultura afro-brasileira em Paracatu

Artesanato, literatura e música fizeram parte da dos espaços de visitação e complementaram a vasta programação do evento
Publicado em 13/11/2024 13:42 Atualizado em 14/11/2024 08:21
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Irene Nascimento ao lado de algumas peças da Mostra que organizou na entrada do Campus
Irene Nascimento ao lado de algumas peças da Mostra que organizou na entrada do Campus
Crédito: Guilherme Brasil/jornalista IFTM Campus Uberlândia Centro

Bastava chegar no Campus Paracatu, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), para perceber que o Congresso Nacional de Educação para as Relações Étnico-raciais (CONERER) estendia um tapete vermelho. Logo na entrada do Campus, o cartão de visitas era a Mostra Cultural de Saberes, com curadoria de Irene Francisco Malheiros Nascimento. Os visitantes viram diversos elementos que remetiam à cultura afro-brasileira, mineira e da região de Paracatu. De panelas de ferro a estandartes com imagens de santos, de bonecos coloridos, representando a Caretagem, a um espaço que recriou uma praça com balanço dentro do Campus, tudo fazia o visitante sentir que adentrava um universo particular.

Logo na entrada havia uma estante com bules antigos de café, xícaras esmaltadas, ferros antigos, panelas de ferro e até um carro de boi. Muitos visitantes paravam para tirar fotos com as centenas de peças da Mostra. Artesã e servidora do IFTM, Irene trouxe essa preocupação com aspecto visual e histórico para a organização do Congresso.

“Não tinha como a gente não se preocupar com a parte da beleza, mas também uma beleza que remetesse a esse conteúdo, que, que caracterizasse esse conteúdo, esse tema tão importante para nós. Essa parte do artesanato é algo que realmente faz toda a diferença. Trazer isso para um ambiente totalmente diferente, caracterizar esse espaço, deixar com a cara de Paracatu foi um grande desafio, mas muito gratificante”, afirma.

“Trouxemos várias peças, todas bem características, mas eu acho que o carro de boi bem na entrada mostra bem o trabalho. Representa bem nossa região, trouxe progresso na época. Outra coisa que achei bom demais num evento dessa magnitude foi podermos trazer São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, que eram santos dos pretos. Em Paracatu nós temos duas igrejas: a igreja matriz, que era a igreja dos brancos, e a igreja Nossa Senhora do Rosário, que era a igreja dos pretos. Poder trazer isso para esse evento foi realmente algo sem palavras, sem comparação”, complementa Irene.

O encatamento pelas peças trazidas por Irene, muitas delas criadas por ela, causava quase uma hipnose, mas quem avançava alguns passos logo se deparava com outra exposição também encantadora. A Mostra História, Samba e Resistência - Projeto Samba em Conta Gotas, coordenado por Magda Rita Duarte, também organizadora do Conerer em Paracatu. Professora de História, Magda e seus estudantes trabalharam a história do samba como forma de resistência e criaram vários banners nos quais conta um pouco sobre a vida de vários sambistas famosos brasileiros. Os banners ficaram expostos em vários pontos do Campus Paracatu para o Conerer.

“O projeto tinha o objetivo de entender a história do samba com um elemento de resistência ao longo do século XX. Nós começamos normalmente com a origem do samba, buscando no século XIX os sambadores nas senzalas e a resistência frente ao sofrimento e tudo. Mas, o que marca a gente aí é 1916 com o lançamento, o registro do samba “Pelo Telefone”, de o Donga, considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil. O projeto então fala de história e é um trabalho pelo qual tenho imensa paixão”, afirma Magda.

Insubmissas letras: mostra de autores afro-brasileiros e indígenas

Se na entrada do Campus houve espaço para o artesanato e a música, na biblioteca do Campus Paracatu quem ganhou espaço foram os autores negros, com a Mostra “Insubmissas Letras: mostra de autores afro-brasileiros”, sob a curadoria da professora Lidiane Castro.  Para esse projeto, que contou com a participação de estudantes, foi feito um levantamento de obras escritas por autores afro-brasileiros e indígenas que estão disponíveis na biblioteca do Campus Paracatu, a partir da temática do Congresso, que são as relações étnico-raciais. “Buscamos mostrar para os estudantes essa representatividade dentro da nossa literatura, por isso essa mostra foi pensada para deixá-los confortáveis e com esse material à mão, para eles tivessem essa leitura de chegar na biblioteca e ver que os livros são acessíveis e que englobam toda essa identidade que a gente tem”, afirma Lidiane.

Outros espaços e momentos culturais

O Conerer ainda recebeu a Exposição Memórias das Comunidades Quilombolas de Paracatu, organizada pela mineradora Kincros, que traz uma série de fotografias sobre a cultura quilombola na região e ficou localizada em diversos pontos do Campus. Além disso, a programação do Conener contou ainda com várias oficinas, tais como Oficina de Culinária Paracatuense, Oficina de Capoeira, Oficina de Bonecas Abayomi, Oficina Culinária do Quilombo - Bolo Zumbi, Oficina de Maquiagem e Cuidados com a Pele Preta e até uma oficina de tranças, intitulada “Minha coroa, meu cabelo!”.

Logo na abertura do Conerer houve ainda um momento muito simbólico e cheio de cores, que foi o Cortejo "Caretagem Mirim da Comunidade Quilombola de São Sebastião". A caretagem é uma festa tradicional em Paracatu, celebrada anualmente por várias comunidades quilombolas da região para comemorar o dia de São João. É uma mistura de ancestralidade africana com a religiosidade cristã, um contraste que se manifesta na confecção de máscaras e fantasias. A história conta que São João era um menino travesso e que a festa foi criada para entretê-lo e impedir que ele colocasse fogo no mundo.

A tradição da caretagem também inclui a prática de ir de casa em casa na noite de São João, tocando sanfona, tambor e dançando para entreter o santo. Essa celebração ancestral, rica em cultura e tradição, é preservada por diversas comunidades da região. O momento encantou o público e trouxe para o palco diversos membros quilombolas para o palco do auditório do Campus Paracatu.

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