Coletivo de danças afro-brasileiras do Campus Uberlândia Centro estreia novo espetáculo
Crédito: Divulgação
O Grupo Corpo Ancestralidade – Coletivo de Danças Afro-Brasileiras, do Campus Uberlândia Centro, do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), estreou, no último dia 10 de novembro, o espetáculo “Corpos dessa Terra: Territórios Originários”, no palco do Teatro Municipal de Uberlândia. A apresentação integrou a programação da Mimmo Escola de Dança, que convidou o grupo para participar de seu espetáculo anual, reunindo artistas e escolas da cidade.
Na ocasião, três estudantes do Ensino Médio Integrado do Campus se reuniram no palco para brindar o público com uma apresentação de cinco minutos inspirada na obra “A Vida Não É Útil” (2020), do escritor e ambientalista Ailton Krenak. O trio de estudantes que se apresentou na ocasião era formado por Manuella Serafim Machado, Rafael Almeida Lisboa e Júlia Pereira Lopes.
A nova produção do coletivo já tem data para voltar aos palcos ainda em novembro. O Coletivo Corpo Ancestralidade faz parte da programação da edição de 2025 do Congresso Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFTM (Conerer), que acontece em Patos de Minas. Durante a abertura oficial do evento, que acontece no dia 24 de novembro, no Teatro Municipal Leão de Formosa, o espetáculo “Corpos dessa Terra: Territórios Originários” ganha os palcos a partir das 15h10. Estudantes dançarinos do coletivo ainda sobem ao palco do Conerer uma segunda vez, no mesmo dia, a partir das 16h20, para apresentar a produção “Ancestralidade Urbana: Experimentos Coreográficos”.
Sobre o espetáculo “Corpos dessa Terra: Territórios
Originários”
O trabalho de desenvolvimento de uma apresentação de dança do
Coletivo começa bem antes de ganhar os holofotes. O espetáculo
“Corpos dessa Terra: Territórios Originários” integra as ações da
Unidade Curricular Politécnica (UCP) “Corpo e Ancestralidade:
Oficinas de Danças Afro-Brasileiras”. Idealizada pelo professor
Dickson Duarte Pires, em parceria com as professoras Flávia Gomes,
responsável pela preparação corporal dos estudantes, e Eleide
Paiva, que atua na assessoria administrativa do grupo, a UCP
aconteceu ao longo do ano letivo de 2025.
Inspirada na obra “A Vida Não É Útil” (2020), do escritor e ambientalista Ailton Krenak, a coreografia reflete, segundo Dickson, “sobre a inseparabilidade entre ser humano e natureza, abordando o abismo contemporâneo e o sonho como forma de reconexão com a Terra”, afirma. “Por meio da dança contemporânea, os corpos se afirmam como territórios vivos, evocando a sabedoria ancestral dos povos originários e sua relação de cuidado e resistência diante das crises do mundo atual. A obra também convoca o público à preservação da terra e de seus ecossistemas, protagonizados por indígenas e ribeirinhos”, complementa o professor.
O espetáculo também dialoga com a pesquisa “Dançar o Território: Uma Etnografia Corpo-Coreográfica das Expressões Indígenas Mineiras”, aprovada no Edital nº 06/2025 do CNPq – PIBIC-EM, sob coordenação da pesquisadora Manuella Serafim Machado.
A produção conta ainda com colaboração técnica e estética dos bolsistas Rafael Almeida Lisboa e Júlia Pereira Lopes, vinculados ao projeto “Roda Negra Expandida – Circulação Artística e Pedagógica”, desenvolvido em cumprimento à Lei Federal 10.639/03. A ficha técnica do espetáculo conta com Dickson Duarte na direção artística, Erickson Damasceno na trilha sonora, Alexandre Gomes nos adereços cênicos e Milton Matos nos figurinos.
Figurinos: terra, movimento e ancestralidade
A construção dos figurinos do espetáculo “Corpos dessa Terra: Territórios Originários” nasceu do diálogo entre estética, pesquisa e identidade, buscando traduzir em tecido a ideia de “terra e raízes em movimento” proposta pela direção artística. Convidado pelo professor Dickson Duarte durante os ensaios, o designer de moda e servidor técnico-administrativo Milton Matos encontrou no acervo pessoal e nas técnicas artesanais os caminhos para materializar essa estética. “Durante os ensaios o profº Dickson Duarte me convidou para elaborar peças do figurino, aceitei imediatamente. Me lembrei que tinha um tecido de tule com impressão gráfica de pele de onça e borboletas em tons de marrom, mostrei o tecido para ele e foi aprovado, confeccionei as 03 blusas com ele.”
Além das blusas, Milton desenvolveu ombreiras e cintos utilizando fios de malhas recicladas, trabalhados em macramê — técnica de origem árabe que utiliza apenas as mãos para tecer nós. A escolha dos materiais e da paleta cromática foi definida a partir do contato direto com os estudantes, o que permitiu ajustar cor, proporção e movimento para a cena. “As ombreiras e cintos foram feitas de fios de malhas reaproveitados de fábricas de malha, com tramas feitas em macramê (…) Tive o cuidado de fazer as ombreiras sob medida para os estudantes e esse contato foi muito importante para definir a paleta de cores de cada uma das roupas por eles utilizados. A Pantone® utilizada foram os tons terrosos do marrom mais escuro ao bege claro.”
A dinâmica do corpo em cena também orientou as decisões estéticas. As franjas de macramê foram criadas em cortes assimétricos para ampliar visualmente o movimento dos dançarinos e reforçar a metáfora de raízes vivas que se expandem. “Com a versatilidade do macramê fiz as franjas nas ombreiras e cintos com cortes assimétricos, que na dança causa um efeito de expansão do movimento dos dançarinos e ocupação maior do espaço cênico, indo ao encontro do tema proposto com efeito de terra e raízes em movimento que brotam do chão sagrado dos nossos ancestrais.”
O processo de criação previa a participação dos estudantes na confecção das peças, mas a agenda intensa de eventos ao longo do semestre impediu essa etapa. Ainda assim, eles tiveram papel importante nos ajustes e experimentações das roupas, aprovando cada detalhe antes da estreia. “Inicialmente a proposta foi a participação dos alunos na confecção dos figurinos, mas as semanas tiveram muitos eventos no IFTM que exigiram a frequência dos alunos, impossibilitando a participação direta deles neste processo. A participação dos alunos foi experimentando as roupas, para que os ajustes necessários fossem feitos. Todos alunos aprovaram os figurinos, ficaram bem felizes.”
Ao todo, Milton confeccionou três blusas, três ombreiras e três cintos, compondo um conjunto que dialoga diretamente com a proposta estética do espetáculo e com a pesquisa sobre ancestralidade indígena e afro-diaspórica que fundamenta a obra. A experiência, segundo ele, foi marcante. “Foi extremamente gratificante trabalhar na concepção e execução dos figurinos e ver o resultado pronto com a felicidade nos olhos dos estudantes, do coordenador e coreógrafo profº Dickson e de todas as pessoas envolvidas. Externo meu agradecimento ao profº Dickson pelo convite e minha satisfação, alegria que este trabalho me trouxe. Pode contar comigo para mais projetos!”
Preparação corporal
A professora de Educação Física Flávia Gomes, por sua vez, atuou na preparação corporal dos estudantes e conta um pouco sobre o trabalho. “Eu trabalhei o condicionamento físico dos alunos, com o objetivo de preparar o corpo para melhorar o desempenho na dança. Foram desenvolvidas atividades de flexibilidade para proporcionar melhora na amplitude de movimento e permitir que o aluno realize movimentos e passos mais amplos e com fluidez; atividades de equilíbrio para desenvolver a estabilidade postural e exercícios de força, como agachamento e abdominal, para melhorar a capacidade de executar movimentos com mais eficiência e resistência”, descreve a professora. “Importante relatar também que sempre realizamos exercícios de mobilidade articular antes das aulas de dança, para aquecimento das articulações e prevenção de lesões”, complementa Flávia.
Segundo o coordenador geral do projeto, professor Dickson Duarte Pires, a experiência de construção do espetáculo reafirma o poder transformador da arte no contexto da educação e da sociedade. “A arte, quando integrada ao cotidiano escolar, torna-se um espaço de escuta, de pertencimento e de reconstrução de identidades. Cada processo criativo é também um gesto político e pedagógico, capaz de ressignificar histórias, ampliar horizontes e inspirar novas formas de existir no mundo. Ao promovermos a arte como campo de pesquisa, de expressão e de convivência estamos contribuindo para a formação de sujeitos críticos, sensíveis e comprometidos com uma sociedade mais justa, plural e solidária”, afirma o professor.
A nova produção reafirma o compromisso do IFTM com uma educação integrada à arte, à pesquisa e à valorização das culturas afro-brasileiras e indígenas, em consonância com as Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino.
Ancestralidade Urbana: Experimentos Coreográficos
O trabalho “Ancestralidade Urbana: Experimentos Coreográficos” nasceu de pesquisas em danças urbanas desenvolvidas também durante a UCP e suas relações com a memória afro-diaspórica e expressões contemporâneas de resistência. Com colaboração do dançarino B. Boy e rapper Deny Borges, integrante da CUFA (Central Única das Favelas), a obra investiga o corpo como campo de experimentação, onde gesto, ritmo e palavra se entrelaçam na construção de novas narrativas urbanas e na promoção de uma Cultura da Paz.
“Essa ação nasce a partir de um trabalho feito com um professor convidado e do interesse dos alunos por aprender as técnicas da dança de rua. As expressões contemporâneas de resistência têm a ver com o tipo de movimentação vigorosa, passos marcados e bem sincronizados que remetem a resistências das comunidade negras diaspóricas e periféricas, a exemplo a das danças urbanas que nascem nas comunidades”, explica Dickson.
“O branco aparece como elemento pictórico central e símbolo de resistência, inspirado no afrofuturismo, representando a potência de imaginar futuros em que ancestralidade e tecnologia se conectam, revelando a dança como espaço de criação, transformação e projeção de mundos possíveis”, complementa o professor. A ficha técnica da produção inclui o professor Dickson na direção artística, Erickson Damasceno na trilha sonora e Laila Ribeiro Alves nos figurinos.
Essa dupla participação do grupo artístico, juntamente com outros trabalhos vinculados à pesquisa e à extensão que abordam a pauta negra, além da presença do Coletivo ENEGRE-SE, coordenado pelo professor Fabrício Gomes Peixoto, reforça o protagonismo do IFTM Campus Uberlândia Centro na promoção da arte como instrumento de formação, reflexão e transformação social.
A atuação conjunta dessas iniciativas fortalece o diálogo entre pesquisa, ancestralidade e contemporaneidade, evidenciando o protagonismo juvenil de estudantes pretos, pardos e indígenas na construção de uma educação comprometida com a diversidade, a inclusão e a equidade racial.
20 de novembro: espetáculo anterior faz sua última apresentação
Antes de estrear a nova produção, o Grupo Corpo Ancestralidade – Coletivo de Danças Afro-Brasileiras levou estudantes do Campus Uberlândia Centro a diferentes palcos com o espetáculo premiado “Eu sou uma, mas não ando só”. Depois de se apresentar em diversos eventos, como o Conerer 2024 e o 31º Festival de Dança do Triângulo, no qual foi premiado, o grupo agora vai se apresentar no dia 20 de novembro, em um evento promovido pela Prefeitura de Uberlândia em comemoração ao Dia da Consciência Negra.
A apresentação acontece no Terrerão do Samba, a partir das 12h, como parte do evento “Celebração Consciência Negra – Marielle Franco”. A entrada é gratuita e o Terrerão fica localizado na Avenida das Américas, 390, no bairro Morada da Colina, próximo ao Campus Uberlândia Centro.
