Edição 2024 do Conerer inicia sua programação em Paracatu e evidencia história de resistência e ancestralidade
Começou nesta terça-feira (12) o IV Congresso Nacional de Estudos das Relações Étnico-Raciais (Conerer), realizado no Campus Paracatu do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM). Entre os dias 12 e 13 de novembro, o evento vai ofertar uma vasta programação com palestras, mesas-redondas, apresentações culturais e logo na cerimônia de abertura evidenciou como a história da cidade está marcada pela forte relação com a cultura negra.
O reitor do IFTM, Marcelo Ponciano, compôs a mesa de honra na cerimônia de abertura e ressaltou como a cidade tem importância para as temáticas abordadas no Conerer. “A realização do Conerer em Paracatu é especialmente significativa. Esta cidade, com 80% de sua população formada por negros e pardos, carrega em seu DNA uma forte identidade cultural negra. Paracatu é símbolo de resistência do povo negro, sendo a cidade do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas com a maior população quilombola, segundo o Censo 2022. Hoje, temos a honra de recebermos representantes de quilombos aqui e reconhecemos que temos muito a aprender com suas trajetórias, saberes e histórias. Este evento é uma oportunidade para vivenciarmos essa troca”, afirmou o reitor durante sua fala de abertura.
O evento é organizado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI), pela Coordenação de Ações Inclusivas e de Diversidade (CAID), e reúne pesquisadores, educadores, estudantes de vários campi do IFTM, além de ativistas de várias regiões. Segundo a professora Magda Rita Ribeiro de Almeida Duarte, coordenadora de Assuntos Étnicos-Raciais e Indígenas do Campus Paracatu e presidente da Comissão Organizadora do IV Conerer, essa relação com a cidade vem desde os tempos de sua fundação, o que enriquece ainda mais a realização do evento.
“A realização do Conerer em Paracatu é bastante oportuna. Essa cidade foi fundada pela marca da diversidade, sim, mas principalmente por grupos africanos e afrodescententes. Registros do ano de 1747 para Portugal apontam que de 10 mil pessoas que estavam aqui nesse período, mais de oito mil eram negras. Foram milhares de vidas negras perdidas aqui na exploração aurífera, que lutaram pela sobrevivênfcia e resistiram para manter suas tradições e preservar sua cultura. A Paracatu de hoje é um reflexo dessa resistência e a realização desse Congresso na cidade demonstra a responsabilidade que nós assumimos como instituição de ensino para que se construa uma memória que preserve o legado afrincano e garanta a ancestralidade dessa resistência”, afirma Magda.
Programação
Durante dois dias o Conerer oferta atividades no auditório do Campus Paracatu, salas e área externa, além de grupos de trabalho online. O evento conta com apresentações culturais, como o cortejo da Caretagem Mirim, peças teatrais, mesas-redondas com debates sobre o ensino e a consolidação da Educação para as Relações Étnico-Raciais, oficinas de culinária e tranças, além de leituras e apresentações. Há também conferências sobre a cor da desigualdade digital no Brasil, mulheres quilombolas e poder ancestral, o racismo estrutural e trabalho escravo contemporâneo, além de atividades de campo como a visita ao quilombo. O evento também conta com a apresentação de trabalhos em forma de comunicação oral e apresentações culturais.
O diretor do Campus Paracatu, Gustavo Alexandre de Oliveira Silva, ressaltou que é uma honra para o Campus receber servidores e estudantes de várias outras unidades para discutir questões tão importantes e buscou destacar que a programação foi pensada com muito cuidado para abranger temas diversos e signicativos.
“A programação do Conerer está bastante rica e diversificada. Conseguimos mesclar apresentações culturais, estamos recebendo grupos externos, divulgando o trabalho realizado dentro do Campus e também contamos com vários atores e pesquisadores de fora do IFTM. Essa diversidade de temáticas e pessoas enriquece ainda mais o evento e valoriza a relação que a cidade de Paracatu, assim como o campus do IFTM que temos aqui, têm com a cultura negra”, afirmou o diretor.
Outras personalidades presentes na abertura
Além dos representantes do IFTM, a mesa de abertura do Conerer contou com personalidades municipais. Integraram a mesa de honra Claudirene Rodrigues, presidente da Câmara de Paracatu e representante da comunidade Quilombola dos Amaros; Igor Diniz, secretário municipal de Cultura e Turismo; Elizabeth Moura Brochado, Superintendente Regional de Ensino de Paracatu; ; Davi Reis Salles Bueno Pirajá, promotor de Justiça da 2º Promotoria de Justiça de Paracatu; Rosilene Bispo de Jesus, presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e Gestora da Igualdade Racial no município de Paracatu; Fabiana Marques da Silva, liderança da comunidade Quilombola dos Bagres.
Claudirene Rodrigues destacou que o evento permite discutir pautas afirmativas para as pessoas em geral. “Nós, pretos, quando temos a oportunidade de estar em nossos espaços de fala, precisamos elevar, sim, as demais pessoas, principalmente no sentido de gerar oportunidades para que as pessoas também tenham condições de se manifestar. A luta é contínua para que essas pautas não se percam somente no mês de novembro”, disse em sua fala de abertura.
O secretário Igor Diniz, que representou o prefeito de Paracatu, Igor Santos Pereira, destacou ainda que o evento se alinha com políticas públicas municipais de igualdade racial. “Tenho certeza de que esses dois dias aqui serão de construção e o Gustavo (diretor do Campus) pode contar com a gente para promover outras ações de promoção da igualdade racial”.
A programação completa do evento está disponível no site https://iftm.edu.br/conerer.